Como o TDAH Aumentou Meu Problema no Casamento e O Que Fiz
Falar dos desafios em uma relação pode ser desconfortável, especialmente quando envolve questões de saúde mental e neurodivergência. No meu caso, não foi diferente. Sempre imaginei que minha instabilidade, irritação e certo distanciamento tivessem mais a ver com o cotidiano desgastante ou diferenças de personalidade do que com um diagnóstico mais profundo. Só consegui conectar os pontos quando finalmente obtive o laudo de TDAH, autismo, superdotação e borderline, depois de anos tentando, errando e quase me perdendo de mim, e do casamento.
A descoberta que transformou meu olhar sobre o casamento
Eu não enxergava, até então, quanto o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade impactava minhas relações. Para ser honesto, nem eu sabia que tinha. Na minha cabeça, eu era apenas “difícil”, “impulsivo” e, em muitos momentos, “desligado”. Não era raro escutar:
“Você nunca está realmente aqui.”
Minha esposa dizia isso durante discussões sérias, ou até mesmo em diálogos simples sobre o dia. O problema era tão invisível para mim, que tentava racionalizar: “Mas eu estou ouvindo!” Só que, na verdade, não estava absorvendo nada do que era dito. O TDAH não apenas dificultava a atenção como bagunçava emoções, tolerância e rotina do casal.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 5% a 8% da população mundial vive essa experiência de desatenção, hiperatividade e impulsividade. O diagnóstico e a informação correta fazem toda a diferença para que a convivência, especialmente no casamento, seja mais leve e compreensível.
Como o TDAH sabotava minha rotina afetiva
No começo, eu jurava que “toda relação passa por altos e baixos”. Mas era diferente. Pequenas brigas se transformavam em verdadeiros abismos. Às vezes, perdia completamente o rumo da conversa. Outras, esquecia aniversários, compromissos ou combinados importantes.
Minha impulsividade também me fazia interromper falas, disparar opiniões sem pensar nas consequências e, claro, me frustrar por perceber que causava feridas em quem mais amava.
Os principais sintomas do TDAH no relacionamento
- Esquecimento frequente de datas e tarefas combinadas
- Dificuldade para ouvir até o fim, principalmente em conversas mais longas
- Desatenção em momentos delicados, como decisões financeiras ou familiares
- Falta de organização do tempo, impactando as responsabilidades diárias da casa
- Oscilações de humor inesperadas e discussões que explodem do nada
- Demora para concluir acordos e retomar assuntos deixados de lado
Claro, todo mundo pode enfrentar algo disso vez ou outra. Mas quando é algo recorrente, a sensação de que “nada melhora” toma conta, tanto para quem tem TDAH quanto para o parceiro. E assim, os problemas dentro de casa ganham novas camadas. Eu me sentia inadequado, como se estivesse sempre devendo.
As primeiras conversas difíceis (e como o TDAH distorceu tudo)
A dor de enfrentar uma conversa sobre a própria falha é absurda. Para quem tem TDAH, pode ser ainda mais exaustivo. No início do meu casamento, tudo parecia fácil, mas após alguns anos, vieram cobranças, expectativas, cobranças de novo. Percebi, por exemplo, que minha esposa carregava um peso emocional muito maior na rotina do lar e na organização das contas. Isso gerou várias crises, porque, aparentemente, eu vivia num mundo à parte.
Quando sentávamos para tentar resolver, eu defendia meu ponto de vista com unhas e dentes, resultado de um impulso automático, muitas vezes sem filtro. O ciclo era quase sempre o mesmo:
- Discussão sobre algo “esquecido” (como um compromisso da nossa filha)
- Minha reação defensiva e agressiva (“Não é possível lembrar de tudo!”)
- Minha esposa tentando explicar o impacto das minhas atitudes
- Eu interrompendo, desviando ou até minimizando
- Discussão termina com os dois magoados e sem resolução
Foi só quando comecei a realmente escutar, sem tentar rebater ou justificar tudo, que entendi o tamanho do estrago. O problema nunca era apenas o que eu fazia, mas a repetição, a falta de mudança real.
Neurodivergência não justifica, mas explica muita coisa
Não quero dizer que o TDAH é uma “desculpa”. Só depois de buscar autoconhecimento entendi que algumas atitudes eram características do transtorno, mas não eram imutáveis.
Isso não quer dizer que todo erro está perdoado. Só que existe explicação para falhas que pareciam má vontade, preguiça ou até egoísmo. Este entendimento foi libertador para mim e serviu de ponto de partida para conversar sobre o assunto de outra forma, menos acusatória, mais aberta. Histórias como a minha impulsionaram o projeto Felizmente, Onde a Esperança Nunca Morre, que busca justamente trazer esse acolhimento e informação para outros que ainda estão perdidos.
De acordo com a Universidade Aberta do SUS, o TDAH é um distúrbio neurobiológico presente desde a infância, e pode persistir por toda a vida. O impacto dessa condição pode ser sentido em todas as áreas, especialmente dentro de casa, onde a rotina exige colaboração, responsabilidade e empatia mútua.
O peso do cotidiano: crise, ansiedade e rotina estressante
Considerando todas as exigências do casamento (filhos, contas, decisões), a presença da ansiedade piorava ainda mais o quadro. Em muitos dias, minha atenção já acordava fragmentada. No café da manhã, nossa fila de afazeres e preocupações já era tema de discussão.
- Esqueci de pagar a conta de luz.
- Não anotei na agenda a apresentação da escola.
- Falei sem pensar e magoei na frente das crianças.
Pequenos descuidos que, para qualquer outro, talvez fossem só o reflexo de falta de organização. No meu caso, eram sintomas de algo maior, o TDAH se manifestando com força total. Essa combinação persistente de fracasso e expectativa injusta me lançou em uma tentativa quase desesperada de aprendizado e mudança. E se eu dissesse que nunca pensei em desistir, talvez mentisse.
“A sensação de desgosto mútuo foi o que mais doeu.”
Pesquisadoras de São Paulo alertam para o perigo de diagnósticos mal feitos e ressaltam a importância de avaliações e intervenções psicossociais cuidadosas como mostram as pesquisadoras de São Paulo. Esse cuidado faz sentido para adultos também, principalmente diante do impacto nos vínculos mais próximos.
Quando percebi que precisava de ajuda: autoconhecimento e busca por apoio
Me dei conta, depois de muito sofrimento, que não conseguiria sair dessa situação sozinho. Pedi ajuda. O caminho para o autoconhecimento é lento, muitas vezes dolorido, mas absolutamente necessário. Comecei terapia, inicialmente individual, depois como casal.
A terapia de casal não serve para “dar razão” a um dos lados. Serve para mostrar, de maneira neutra, como o comportamento de um afeta o outro. No nosso caso, o profissional foi fundamental para identificar padrões, ajudar minha esposa a compreender sintomas do TDAH, e, o mais importante, permitir que eu reconhecesse minhas limitações sem pedir perdão por ser quem sou.
Li muito, busquei informações em iniciativas como o espaço de educação e conscientização em saúde mental do projeto Felizmente, e tentei aplicar pequenas mudanças práticas na rotina, mesmo sem garantia de acerto.
Dicas práticas que ajudaram na convivência
- Pedir ao parceiro para repetir o combinado lentamente em situações importantes
- Agendar lembretes visuais para compromissos familiares e financeiros
- Tentar não rebater de imediato, mas escutar por completo antes de responder
- Dividir tarefas, não apenas delegar e esquecer (responsabilidade compartilhada)
- Criar um “momento da verdade” semanal para conversar sobre expectativas, dores e conquistas
- Registrar as conversas e revisitar acordos eventualmente
Essas pequenas ações não “curam” o TDAH, mas atenuam os impactos em uma relação afetiva. Da mesma forma, fortalecem a confiança mútua, pois mostram intenção de construir junto.
Reconhecendo limites e aceitando imperfeições
Permiti-me errar, e permiti que minha esposa também errasse. Ninguém nasce pronto para lidar com a neurodivergência dentro do casamento, mas é possível aprender e buscar soluções juntos. Uma vez, ela me disse:
“Você pode até esquecer o que combinamos, mas não esqueça o que sentimos.”
Isso ficou comigo. A relação vai muito além dos acertos e dos erros práticos do dia a dia. Trata-se de vínculos, de intenção, de atravessar etapas difíceis com honestidade e vulnerabilidade.
Percebi que o caminho não é sobre evitar crises a qualquer custo, mas sobre aprender a atravessá-las de mãos dadas. Momentos de recaída acontecem. Um esquecimento pode gerar outra briga. Mesmo assim, nossa disposição para conversar e recomeçar tornou tudo menos doloroso.
Ao compartilhar minhas vivências no espaço sobre superdotação e altas habilidades do Projeto Felizmente, notei como existem outros casais atravessando lutas parecidas, tentando encontrar sua forma de conexão em meio ao caos.
O papel do autocuidado e dos materiais de apoio
Outra virada importante foi perceber que cuidar de mim mesmo era indispensável. Passei a consumir materiais educativos e conteúdos de apoio relacionados a saúde mental, neurodivergência e técnicas de mindfulness. Nem sempre tudo funciona, claro, mas chegou a hora em que busquei alternativas, até jogos educativos recomendados pelo Ministério da Educação apareceram como opção para desenvolver habilidades de foco e autocontrole.
Só entendi, de verdade, minha responsabilidade ao aceitar que não conseguiria entregar tudo se não estivesse bem. Investir em autocuidado, entender meus próprios limites e tentar crescer constantemente mudaram a dinâmica do casamento, mesmo que em pequenos detalhes.
Rompendo o silêncio: quando vale pedir ajuda?
Nada muda se continuamos calados. Foi rompendo o silêncio, compartilhando dúvidas e angústias, que comecei a receber o apoio dos meus. Sei que pedir ajuda pode parecer sinal de fraqueza, mas na prática é o início da superação.
Vale lembrar que especialistas apontam a relação direta entre TDAH e outras condições, como uso de substâncias, distúrbios de humor e ansiedade, podendo agravar ainda mais o convívio familiar, como ressalta as pesquisas do especialista Marcos Romano. Reconhecer isso é o primeiro passo para quebrar o ciclo de crises e buscar soluções práticas.
Para quem ainda não foi diagnosticado, o autoconhecimento é a melhor ferramenta. Nas páginas do portal sobre ansiedade, autocontrole e transtornos, achei conforto e informação em meio à dúvida e ao medo. E essa busca por recursos pode ser o que impede que uma dificuldade conjugal pequena vire uma situação insustentável.
Como o diagnóstico mudou nossa dinâmica
Para além dos desafios, o diagnóstico abriu espaço para negociações mais justas. Minha esposa parou de atribuir os problemas a falhas de caráter ou falta de carinho. Eu, por minha vez, parei de me culpar por todos os fracassos ou de tentar “compensar” com exageros, fosse comprando presentes ou prometendo mais do que dava conta.
- Aprendemos a valorizar pequenas vitórias: uma conversa finalizada sem gritos, um combinado cumprido no prazo, um pedido de desculpas sincero.
- Criamos um repertório de recursos para lidar com dias ruins. Respeitamos o tempo do outro e não alimentamos mágoas.
- Usamos o humor, sempre que possível, para não deixar a relação escurecer de vez.
O TDAH continua fazendo parte da minha vida. Talvez, para sempre. Mas o problema conjugal deixou de ser uma sentença, e virou uma jornada de aprendizado, paciência e mudança. E sigo aqui, tentando ser melhor a cada dia, para mim, para ela e para nossa história.
Conclusão: É possível conviver, crescer e recomeçar
Meu relato mostra, acima de tudo, que é possível superar crises, reconectar e construir algo bom mesmo diante de desafios ligados à neurodivergência. Não existe roteiro perfeito para transformar um casamento atravessado por sintomas do TDAH, autismo ou ansiedade. O segredo, se é que existe, é aceitar a imperfeição, buscar informação (como no projeto Felizmente), pedir ajuda e tentar ouvir mais do que falar.
Se você sente que seus conflitos conjugais podem estar ligados a transtornos do neurodesenvolvimento, não espere os danos ficarem irreversíveis. Procure apoio, dialogue sem medo e explore os recursos de acolhimento disponíveis, inclusive por aqui. Compartilhe sua dúvida ou história com a gente, conheça nosso espaço e permita-se ser parte dessa mudança.
Perguntas frequentes sobre TDAH, casamento e convivência
O que é TDAH e como afeta casamentos?
TDAH é o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, uma condição neurobiológica que causa distração, impulsividade e dificuldade de foco. No casamento, o TDAH pode gerar conflitos através de esquecimentos, promessas não cumpridas, reações emocionais abruptas e dificuldade de manter conversas profundas.Esses fatores aumentam o desgaste emocional, principalmente quando faltam informação ou estratégias de acolhimento mútuo.
Como lidar com TDAH no relacionamento?
O primeiro passo é buscar o diagnóstico e acessar informação segura sobre o transtorno. Depois, o casal pode investir em diálogo aberto, terapia (individual e/ou de casal), divisão equilibrada das tarefas e uso de lembretes ou rotinas.Empatia e paciência mútua são fundamentais, assim como valorizar pequenas conquistas cotidianas.
TDAH pode causar separação no casamento?
O TDAH não “causa” separações automaticamente, mas pode aumentar as crises conjugais quando há desconhecimento dos sintomas e falta de suporte. O acúmulo de pequenas frustrações tende a minar a confiança, a intimidade e o desejo de construir juntos se o tema não for abordado com seriedade.
Quais sinais de problemas conjugais causados pelo TDAH?
Entre os sinais estão: brigas por esquecimentos, promessas descumpridas, sensação de não ser ouvido pelo parceiro, explosões de humor e dificuldade em dividir responsabilidades. Sentimentos de solidão, frustração e baixa autoestima em ambos também podem indicar a necessidade de atenção imediata.
Terapia de casal ajuda em casos de TDAH?
Sim. A terapia de casal pode ser decisiva para restaurar o diálogo e propor ajustes nas dinâmicas do casamento afetadas pelo TDAH. O acompanhamento profissional cria um ambiente seguro para expor dores, expectativas e estratégias práticas para conviver melhor. O ideal é que a abordagem seja personalizada e acolha a realidade neurodiversa de cada um sem julgamentos.
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