12 de dezembro de 2025
#Ansiedade

Dificuldade em se Expressar: Guia Prático para Superar Bloqueios

Homem sentado sozinho em ambiente interno, expressão pensativa e levemente ansiosa, mãos no rosto, luz suave iluminando o ambiente tranquilo

Eu já perdi as contas de quantas vezes me peguei travado diante de uma situação em que precisava falar. Sabe aquele nó na garganta, quando você quer muito compartilhar um pensamento, mas já ficou tão nervoso mesmo antes de abrir a boca que nada sai? Ou então – talvez ainda pior – quando você finalmente consegue se manifestar, mas as palavras parecem confusas, desconexas, ou saem completamente diferentes do que você imaginava na cabeça?

Durante anos, convivi com esse tipo de trava. Em família, reuniões de trabalho, até nas conversas mais simples. Só bem mais tarde descobri que parte dessas dificuldades estava ligada à minha neurodivergência: TDAH, autismo e altas habilidades, diagnósticos que só apareceram depois de muito tempo, como conto aqui no projeto Felizmente.

Este artigo é sobre isso. Não sobre termos técnicos, mas sobre experiências, caminhos e pequenas estratégias que encontrei – e que continuo testando, errando, tentando de novo – para superar esse bloqueio que impede a nossa voz de sair na medida em que ela realmente é.

Às vezes, o silêncio dói mais do que qualquer palavra mal dita.

Por que é tão comum ter dificuldade para se expressar?

Sempre acreditei que falar era simples. Mas só é simples para quem, de alguma forma, sente que vai ser acolhido, ouvido, compreendido. Cresci ouvindo comentários como “você pensa devagar”, “fica nervoso demais”, “não presta atenção”, e internalizei isso como parte de mim. Quem passa por situações assim sabe: o medo do julgamento pode paralisar completamente a vontade de se abrir.

O curioso é que, de acordo com a estimativa do Ministério da Saúde, entre 5% e 8% da população mundial apresenta TDAH. E segundo o Censo Demográfico 2022, 1,2% da população do Brasil tem diagnóstico de autismo. Ou seja, muita, muita gente enfrenta diariamente dificuldades de comunicação que não são frescura, preguiça ou falta de esforço, mas sim reflexos de vivências reais e, muitas vezes, de neurodivergências.

No meu caso, por mais que tenha tentado durante anos “me adaptar”, as palavras raramente saíam como eu pensava. Ficava horas reescrevendo e-mails, ensaiando respostas no chuveiro, ou simplesmente desistia antes de tentar, por medo de parecer incompetente ou sem conteúdo. Situações onde outras pessoas já estavam debatendo pareciam ainda mais intimidantes.

Mulher sentada sozinha em mesa de escritório olhando para baixo As raízes do bloqueio: fatores que atrapalham a nossa expressão

Não existe uma única razão para a nossa voz falhar, mas alguns aspectos são muito frequentes nos relatos que ouço e no que vivi:

  • Medo de julgamento: Aquela voz interna que diz “vão achar minha ideia boba”, “ninguém se importa”, “se eu errar, não vão perdoar”. Esse medo é alimentado por experiências negativas, rejeições passadas ou críticas frequentes, como mostram histórias que conheci no próprio Felizmente.
  • Ansiedade: O simples fato de pensar em falar já faz o coração acelerar. Para mim, o nervosismo vinha acompanhado de mãos suando, voz trêmula, até o pensamento parecia fugir.
  • Falta de autoconfiança: Quando a autoestima está baixa, acreditar que sua fala tem valor vira um desafio enorme.
  • Padrões familiares e escolares: Crescer ouvindo repreensões severas, críticas constantes ou tendo pouco espaço de fala cria barreiras invisíveis.
  • Causas neurodivergentes: Pessoas com TDAH costumam relatar lapsos de atenção ou dificuldade de organizar ideias. No autismo, o desafio pode ser maior ao interpretar expressões, tons de voz ou gestos, conforme compartilhado pela Revista Educação Pública.
  • Experiências traumáticas: Bullying, humilhação pública ou até situações de violência verbal podem marcar profundamente.

Algumas dessas situações estão muito além do nosso controle, mas há caminhos para aprender a reconhecer e lidar melhor com elas.

A ligação entre neurodiversidade e dificuldades para se comunicar

Durante muitos anos, eu não via relação entre ter TDAH, autismo e minha enorme dificuldade em interagir ou colocar sentimentos para fora. Eu achava que era só insegurança, timidez, ou sei lá, falta de treino. Ao pesquisar mais e conversar com outros neurodivergentes, percebi que essa relação é muito mais comum do que se imagina.

Para quem tem TDAH, é usual perder a linha de raciocínio no meio de uma frase, misturar assuntos ou esquecer o que queria dizer. Isso me acompanha desde sempre, e por vezes, aquela sensação de “deu branco” já me fez desistir de falar. A Revista Educação Pública até aponta que esses sintomas podem persistir ao longo da vida adulta, afetando a forma como interagimos.

No autismo, interpretar nuances sociais – um olhar, uma entonação diferente, pausas que para outros são óbvias – pode ser um enorme labirinto. Eu, por exemplo, já respondi perguntas literalmente, sem notar ironias. Ouvi piadas e fiquei sem reação, o que depois gerava desconforto no grupo. O IBGE destaca que autistas enfrentam esses desafios mesmo entre quem possui vocabulário avançado.

Nas altas habilidades (superdotação), há ainda a tendência de pensar rápido, sentir tudo intensamente, mas não conseguir traduzir as emoções de forma adequada. Isso pode gerar frustração, isolamento, e até aquele sentimento de que “ninguém me entende”, como também já ouvi em vários depoimentos que chegam por meio do conteúdo para altas habilidades.

Pessoas em reunião olhando apreensivos enquanto uma pessoa fala Como os bloqueios afetam a qualidade de vida e relações

Não expressar o que sentimos ou pensamos pesa. Muito. Eu mesmo já vivi (e ainda vivo, de vez em quando) situações em que a vontade de agradar, de não chamar a atenção ou de evitar um conflito me fez ficar em silêncio mesmo quando eu sabia que deveria ter falado.

  • Discussões familiares em que queria defender alguém e não consegui;
  • Reuniões em que tive uma boa ideia, mas não consegui abrir a boca;
  • Relações amorosas prejudicadas simplesmente por não conseguir comunicar um incômodo ou uma necessidade.

O acúmulo dessas situações abala a autoestima. Você passa a duvidar do seu valor, se fecha mais, sente que não pertence ao grupo. Quando percebi isso acontecendo comigo, busquei apoio psicológico e comecei a enxergar que romper essa barreira não é apenas falar mais. É se autorizar a existir, com toda sua complexidade, nas pequenas conversas cotidianas.

Foi por isso que decidi criar junto com o Gustavo Braga o projeto Felizmente, para que outras pessoas não precisem levar 18 anos para encontrar respostas para suas inquietações internas.

Caminho para dentro: autoconhecimento como base

Quando se fala em superar bloqueios de comunicação, a primeira reação é: “Então é só treinar?”. Até pode ajudar, mas descobri que o ponto de partida, ao menos para mim, sempre foi olhar para dentro e entender de onde vem o medo. O que essa voz interna critica tanto em mim?

  • Lembranças de situações de exposição desagradável na infância;
  • O perfeccionismo que não admite falhas;
  • O hábito de me comparar com quem parece desinibido;
  • Não reconhecer meu ritmo, meu jeito e minha forma de pensamento.

Compreender a minha história – inclusive as partes difíceis, como o diagnóstico tardio, citado até pela Câmara Municipal de Belo Horizonte como um desafio comum para autistas – foi o que abriu espaço para acolher a voz que eu tanto escondi.

Ninguém conhece melhor sua dor do que você mesmo.

Estratégias práticas para destravar a expressão

Com o tempo, fui colecionando técnicas simples que me ajudaram (e ainda ajudam) a lidar com essas travas. Compartilho algumas delas porque sei que, para muita gente, funcionam muito bem:

1. Respiração consciente na hora da tensão

Parece banal, mas não é. Quando sinto que estou ansioso, faço uma pausa e respiro fundo algumas vezes – inspiro contando até quatro, seguro por dois segundos, expiro contando até quatro. Ajuda a desacelerar o corpo e organizar as ideias.

2. Organização prévia do pensamento

Quando sei que participarei de uma conversa difícil, costumo anotar os tópicos principais em um papel ou no celular. Visualizar as ideias antes de falar me dá segurança para não esquecer pontos importantes.

3. Comunicação não violenta (CNV)

Aprendi que é possível dizer como me sinto sem agredir ou julgar o outro. A CNV se baseia em quatro pilares: observação sem julgamento, expressão de sentimentos, explicitação das necessidades e pedidos claros. Por exemplo, ao invés de “Você nunca me escuta!”, posso tentar “Quando tento falar sobre algo importante e não obtenho resposta, fico frustrado e gostaria que me ouvisse por alguns minutos”. Essa estrutura me ajudou a reduzir conflitos desnecessários.

4. Exercícios de expressão emocional

Um exercício que gosto é escrever cartas que nunca vou enviar, só para organizar sentimentos. Outra opção: gravar áudios para mim mesmo, como se estivesse conversando com alguém. Permitir que as emoções tenham voz, mesmo que só entre eu e o papel (ou o celular), já alivia.

Homem sozinho olhando para o espelho com expressão intensa 5. Exercitar conversas em ambientes seguros

Antes de enfrentar um diálogo tenso no trabalho, costumo discutir o tema com pessoas próximas ou até comigo mesmo em voz alta, ensaiando frases, reorganizando as ideias. Não é garantia de sucesso, mas sempre me ajuda a ganhar confiança.

6. Terá dias em que nada funciona, e tudo bem

Saber que em alguns momentos a trava pode vencer não é motivo de vergonha. Acolher esse processo faz parte do crescimento.

Quando buscar ajuda profissional?

Em vários momentos, a dificuldade em colocar pra fora o que penso extrapolou a simples timidez. Sentia forte impacto no trabalho, nas amizades, começava a evitar até os ambientes sociais. Nesses casos, contar com um psicólogo foi fundamental. O apoio especializado me ajudou a identificar padrões que eu repetia sem perceber e a construir alternativas para romper esses bloqueios.

Além disso, para quem suspeita ter TDAH, autismo ou outras formas de neurodivergência, uma avaliação bem feita pode ser libertadora. Não resolve tudo, mas ao menos direciona o foco dos tratamentos e acolhimentos.

Hoje posso dizer sem vergonha: não existe atalho mágico. O caminho de se expressar com mais leveza é cheio de recaídas, mas cada pequeno avanço já vale a pena. E aqui no projeto Felizmente, sigo acreditando que trocar experiências reais é talvez a maior ferramenta para fortalecer outras vozes.

Duas pessoas se cumprimentando cordialmente em consultório Recursos extras e onde encontrar mais apoio

Algumas pessoas perguntam: “Onde posso encontrar conteúdos práticos, que falem minha língua, sem tanto tecnicismo?” Eu mesmo busquei por muito tempo esse tipo de material. Entre eles, indico alguns caminhos internos e externos que me apoiaram:

Quanto mais pessoas falarem abertamente sobre suas experiências ao invés de só compartilharem fórmulas prontas, mais a gente vai se sentir confortável para errar e recomeçar. É nisso que acredito.

Conclusão: a voz não precisa ser perfeita, só precisa ser sua

Durante muito tempo, busquei o “jeito certo” de falar, aquele que agrade a todos, que passe segurança e seja livre de julgamento. Só que percebi no caminho que a voz autêntica não é perfeita, nem precisa ser. Às vezes treme, às vezes hesita, mas conta a história de quem você realmente é.

Você não precisa ultrapassar todos os bloqueios de uma vez, nem se comparar com quem parece mais “solto”. O principal passo é se permitir existir, do jeito que você é, usando a palavra como ato de coragem e conexão.

Se você sente que sua dificuldade de expressão está te impedindo de viver relações plenas ou afetando a sua autoestima, encontre apoio, seja através da terapia, de conversas em grupos ou de espaços acolhedores como o Felizmente. Juntos, vamos ampliando as formas de existir no mundo, e transformando as dores em novos jeitos de conversar.

Quer começar essa jornada com a gente? Explore nossos conteúdos, compartilhe sua experiência e descubra novas possibilidades de acolhimento e transformação. Acesse o Felizmente e faça parte dessa rede onde, finalmente, a esperança nunca morre e sua voz sempre encontra espaço.

Perguntas frequentes sobre dificuldade para se expressar

O que causa dificuldade para se expressar?

Diversos fatores influenciam as dificuldades de expressão, desde experiências negativas na infância, bullying, traumas, até questões ligadas à ansiedade, timidez, baixa autoestima e neurodivergências como TDAH e autismo. Além disso, situações de ambiente hostil, ausência de escuta ativa ou repetidas críticas minam a confiança para se expor, gerando bloqueios de fala até entre pessoas muito capazes.

Como posso melhorar minha comunicação?

Praticar técnicas simples como respiração consciente, anotar tópicos importantes antes de reuniões, buscar ambientes seguros para falar, trabalhar o autoconhecimento e, se possível, experimentar estratégias de comunicação não violenta costumam facilitar bastante o processo. A busca de apoio psicológico é um diferencial comprovado para quem enfrenta impasses mais complexos.

Quais são os principais bloqueios de fala?

Os bloqueios mais comuns que encontro (e que já vivi) são o medo de errar ou ser julgado, lapsos de memória ligados à ansiedade ou TDAH, falta de confiança em suas próprias ideias, experiências traumáticas antigas e receio de não ser compreendido. Em pessoas neurodivergentes, a dificuldade pode vir tanto da desorganização do pensamento quanto da interpretação diferente das interações sociais.

Existe tratamento para dificuldade de expressão?

Sim, existe tratamento para esses desafios. O mais indicado é a psicoterapia, que pode trabalhar a causa do bloqueio, fortalecer a autoestima e ajudar a reestruturar padrões de pensamento e comportamento. Em alguns casos, acompanhamento para questões neurodivergentes pode incluir medicamentos, mas a base do processo é sempre o acolhimento e a construção de autoaceitação.

Quando procurar ajuda profissional para isso?

Quando o bloqueio começa a impactar a qualidade de vida, relações pessoais ou profissionais, gerando sofrimento emocional exagerado, vergonha constante, isolamento ou sintomas físicos de ansiedade, é hora de buscar apoio de um psicólogo. Mesmo que pareça pequeno, todo desconforto que limita sua expressão merece atenção e cuidado.

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